quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Jesus Político e Social .



A falsa prudência de simplesmente aceitar a ignorância religiosa como "religiosidade popular" que deve ser mantida como "tradição" e sei lá mais o que, leva-nos a cruzar os braços diante da superstição, da inexperiência, da exploração, por parte de leigos e religiosos com fé primária e milagreira.
É evidente que a falta de cultura e informação religiosa levam o indivíduo a crendices, mas seremos coniventes, e  assim julgados, se não fizermos algo a quem está ao nosso lado, é evidente, para que ele entenda que Deus é mais que uma imagem e que os santos são exemplos que devemos "seguir" e não adorar. É fácil demais cumprir uma promessa de uma visita a um santuário, de uma vela acesa ou de uma doação qualquer...
A verdadeira promessa deveria ser não um ato, mas de uma atitude definitiva: mudança de vida. Mas a maioria tem medo de perder a clientela, como se o Reino de Deus fosse um local cercado por balcões onde o freguês sempre tem razão. Mas que a oração seja persistente, perseverante,e que não se ore somente uma vez ao ano, dentro de uma insistente campanha da Igreja, ou se lembre da existência do "Pai Nosso" só no desespero. Nada de época de oração e caridade, mas fazer de todo tempo o tempo de Deus.
Os poderosos sempre prestigiaram e aplaudiram a ignorância religiosa porque ela é realmente anestésica. Não incomoda nenhum poder porque é passiva. Não contesta nada. Diante da indignidade só sabe dizer: "Deus quis assim..."
O que Deus quer, na realidade, é  consciência de que somos seus filhos e temos o direito de viver o Reino que começa aqui. Deus não quer a fome, a miséria, a morte por falta de teto, agasalho ou alimentação. Deus quer a justiça e o amor.
Jesus Cristo, maravilhosamente, preocupou-se com os dramas sociais. Ele mesmo nasceu longe de sua casa, num cantinho emprestado, viveu o exílio ainda pequeno, no Egito, porque o rei Herodes mandara matar todas as crianças de sua idade. Cercou-se de muitos pobres e ignorantes e fez deles apóstolos.
Como não havia atendimento satisfatório, curou os doentes, se apiedou deles, falou com eles, desenvolveu-lhes a fé. Chamou de bem-aventurados os que tem fome de justiça, os que são perseguidos e injuriados. Na sua oração maior não se esquece de dizer "o pão nosso de cada dia", e ainda, no evangelho de Mateus, diz bem alto: "Não podeis servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro." (Mt. 6:24)
Jesus misturou-se com pessoas da má fama. E tentou tirá-las do mal.
Não pactuava por causa da influência ou do poder delas.
Ao cobrador de impostos simplesmente disse: "Venha comigo!"
Falava com uma prostituta, descia até ela para que ela subisse com Ele. Esteve com o paralítico, com a menina morta, com os cegos, com os mudos; ouvia todos os pequenos e os fazia ouvir...: "E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor." (Mt. 9:36)
Jesus não temia as perguntas porque mantinha estreita união com o Pai. As respostas brotavam desconcertantes e corajosas.
Pôs-se em ação e disse: "Ide e pregai a toda gente." (Mt. 16:15)
Avisou para não esquecerem os doentes do espírito e da carne. "Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos... E sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios." (Mt. 10:16)
          MAS ...
"...Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma." (Lc. 12:4)
"E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão." (Mt. 10:42)
"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei." (Mt. 11:28)
Assim Jesus saía a alertar e a comprometer, sem se preocupar em escolher palavras menos chocantes: a verdade precisava ser dita.
Defendeu os discípulos que, com fome, comiam espigas, e também curou num sábado a mulher encurvada. Jesus não via hora, ou dia, para servir. Chega de preceitos acima da fé...
Ensinava no templo, na praia. Ordenou que dessem pães e peixes a milhares de pessoas que foram ouvi-lo e sentiam fome.
Diante dos líderes omissos que apenas cumpriam regras, Ele diz virilmente: "Ai de vós que dais a Deus a décima parte... e desprezais a justiça e o amor. Ai de vós que sois como túmulos... sepulcros caiados, podres por dentro. ai de vós que colocais cargas nas costas dos outros. Assassinos de profetas..." (Mt. 23)
          E AINDA ...
"Ai de vós que guardais a chave que abre a porta da sabedoria; vocês não entram e não deixam entrar." (Mt. 11:52)
Jesus ia passando e deixando marcas: "Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui." (Lc. 12:15)
De repente o cerco começa a preocupar os mais chegados ao Nazareno, e vem o aviso: "Jesus, Herodes quer matá-lo!" E vem a resposta: "Vão e digam àquela raposa que eu mandei dizer o seguinte: vou continuar meu trabalho hoje, amanhã e depois... um profeta não deve ser morto fora de Jerusalém." (Lc. 13:33-32)
Ele chega a dizer que quando alguém der uma festa, que convide os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos, todos os marginalizados porque aí virá uma benção já que eles não poderão pagar o que o que lhes foi feito; pois não há mérito em fazer o bem a quem pode pagar. (Lc. 14:13-14)
Impressionante coragem em dizer que o sal é coisa útil mas, se perde o gosto, não serve nem para a terra nem para o deserto... É jogado fora. (Mt. 5:13)
Jesus precisava falar tudo. Tinha pouco tempo para deixar a mensagem definitiva. Iriam matá-lo.
Enquadra os que põem venda na consciência: "Quem não é honesto com as riquezas deste mundo, como confiar-lhe as riquezas do céu? Quem é desonesto nas coisas pequenas o é nas grandes." (Lc. 16:10-11)
"Quem achar a sua vida perdê-la-á..." (Mt. 10:39)
Eis aqui agora uma historinha sobre os direitos da pessoa humana: "Uma viúva vivia procurando o juíz e exigindo que se atendessem seus direitos. O juiz não temia a Deus e fazia o que bem entendia, mas a viúva tinha tanta consciência dos seus direitos que insistia sem parar. Um dia o juiz resolveu defendê-la porque o direito era tão evidente que poderia comprometê-lo..."
Assim foi e é Jesus. "Senhor, pratico todos os mandamentos e quero mais ainda..." A resposta veio, nua e crua: "Venda tudo o que tem e me siga!" (Mc. 10:17-21)
Sem meios termos, sem média, sem "jeitinho"... "E agora Zaqueu?" O pequeno homem, em estatura, sentindo o peso dos seus arbítrios, responde: "Escute, vou dar metade dos meus bens aos pobres. E se tenho roubado alguém vou devolver quatro vezes mais." (Lc. 19:8)
"A César o que é de César, a Deus o que é de Deus..." (Mc. 12:17)
"Esta viúva pobre, que deu duas moedas, deu mais que os que puseram muito dinheiro." Vale mais aquele que dá o que lhe vai fazer falta que aquele que dá das sobras. (Mc. 12:43-44)
"Se eles calarem as pedras gritarão!" (Lc. 19:40)
Ao ressuscitar, no terceiro dia, apareceu primeiro a uma ex-prostituta, Maria Madalena.
Jesus, promoveu o marginalizado, o pequenino e...
VOCÊ VEM ME DIZER QUE A IGREJA NÃO DEVE SE PREOCUPAR COM O LADO    POLÍTICO E SOCIAL ???


NOTA: Este texto foi extraído do livro "Os Fantoches", de Neimar de Barros.


Abraço. Fiquem na paz!   =)

Nenhum comentário: